Há 9 anos a Agrale lançava oficialmente seu jipe Marruá, em uma super expedição, que partiu de Caxias do Sul, RS e finalizou na Chapada dos Guimarães, MT, entre 5 e 18 de março de 2006.
Vamos relembrar? Boa viagem!
Expedição Agrale Marruá – Caxias do Sul, RS a Chapada dos Guimarães, MT
Por James Garcia
Fotos Julio Soares
Batismo no coração do Brasil
NÃO HÁ AÇÃO MAIS APROPRIADA PARA UM FABRICANTE DE VEÍCULOS 4X4, DO QUE PROMOVER O BATISMO DE FOGO PARA UM JIPE, EM SITUAÇÃO REAL DE USO EM SOLO BRASILEIRO. COMEMORANDO TAMBÉM A TRAJETÓRIA DE SUCESSO DE 40 ANOS DA AGRALE, A EMPRESA REALIZOU UMA EXPEDIÇÃO QUE MESCLOU INTEGRAÇÃO SOCIAL, ROTEIROS SENSACIONAIS, CULTURA E A OPORTUNIDADE RARA DE FAZER OFF-ROAD A BORDO DO MAIS NOVO JIPE NACIONAL, EM ESTRADAS, MONTANHAS E CAMPOS DE CINCO ESTADOS, SAINDO DE CAXIAS DO SUL, RS, PARA CHEGAR À CHAPADA DOS GUIMARÃES, MT, NUMA PLANILHA DE 3.800 QUILÔMETROS.
A Agrale lançou o Marruá em novembro de 2004. Mas ainda faltava realizar o batismo de fogo do mais novo jipe brasileiro. Para festejar o nascimento do 4×4, formatou-se uma grande expedição, com participantes escolhidos criteriosamente, através de um pequeno anúncio feito no site da marca, em dezembro de 2005. O roteiro foi levantado especialmente para a ocasião: largou de Caxias do Sul, RS, – sede da fábrica – e teve como destino a paradisíaca Chapada dos Guimarães, MT.
O evento foi definido em julho de 2005, por Rogério Vacari – executivo da empresa e um grande entusiasta do off-road. Ele fez o levantamento do caminho em parceria com João Batista Lima, profissional com vasta experiência no fora-de-estrada e sobrevivência de selva. Lima trabalhou nas provas Endurance do Festival Brasil Off-Road e nas seletivas do lendário Camel Trophy, nos anos 80.
O período de planejamento – que tomou o segundo semestre de 2005 –, foi o tempo necessário para Vacari idealizar a viagem completa. “Nossa expedição teve acampamento selvagem, fora-de-estrada com vários graus de dificuldade, 18 etapas de navegação, cinco circuitos especiais e até uma moeda própria, denominada Tourinho. Quem chegou ao final da viagem com mais Tourinhos, ganhou o troféu Agrale 40 anos”, explicou o executivo. A intenção foi unir ao máximo todos os participantes.
Mesmo sem divulgação na imprensa, a notícia se espalhou rapidamente entre a comunidade 4×4. Entre os 1.313 inscritos, foram selecionadas nove duplas, oriundas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás e Minas Gerais. Antes das seletivas, foram realizados testes psicológicos, condicionamento físico, pilotagem e conhecimento 4×4. No dia 3 de março, foram anunciadas as duplas na sede da Agrale.
Os membros das equipes não tinham uma função específica, ou seja, ambos pilotaram, navegaram e realizaram as diversas atividades programadas, numa espécie de gincana outdoor e fora-de-estrada. Todo a logística do evento foi organizada por funcionários da marca.
Foi clara a satisfação das pessoas, ansiosas para conhecerem os jipes, o que não havia ocorrido até ali. Nas eliminatórias, o clima de união já era nítido, e os classificados viveram um sentimento misto de alegria e tristeza, afinal, os eleitos deixaram alguns colegas para trás. A surpresa da noite foi o anúncio de que dois suplentes fariam parte do comboio, mas sem concorrer ao Agrale 40 anos.
Ação!
Escolhidos os viajantes, o evento teve início no dia 4 de março, com um briefing, no qual foram apresentados os organizadores, diretores de prova e os Marruá, equipados com pá, machado, pranchas de desatolamento, faróis auxiliares, pneus militares Firestone 750 x 146, entre outros acessórios.
Além dos nove carros dos participantes, seguiram mais seis jipes com a organização e imprensa. Foi interessante ver os modelos pré-séries das versões picape e caminhão utilitário com baú.
No dia 5, a expedição partiu de Caxias do Sul, RS, e entrou por estradas vicinais de terra até São Joaquim, uma das regiões mais frias do Brasil. As avaliações de comportamento grupal tiveram início, bem como a pontuação com os Tourinhos.
Orientar um grupo composto por 41 pessoas e 15 jipes, em meio a trilhas, desafios e roteiros, às vezes por paisagens urbanas, é uma tarefa difícil. É preciso estar atento a todos os detalhes, sobretudo à segurança e ao tempo.
A ordem do comboio era alternada diariamente, e a cada etapa uma equipe liderava a fila de jipes e fazia a leitura da planilha. Se errasse, perdia-se Tourinhos. Se o carro da frente não esperasse, perdia também. O 4×4 de Lima – que transportou a direção do evento – seguia logo atrás do penúltimo Marruá, e na seqüência vinha a organização. Fechavam o comboio o limpa-trilha ou o vassoura, que estavam equipados com rádio e eram responsáveis por todos.
Dia 6, segunda-feira
Curitibanos, SC – Treze Tílias, SC – Chapecó, SC
De Curitibanos, SC, o grupo rumou para Treze Tílias, SC, uma cidade absolutamente apaixonante e atípica. Ou melhor, típica do Tirol – região localizada entre os Alpes Suíços, França e Alemanha. O lugar é de uma beleza arrebatadora, com paisagens inesquecíveis entre vales, serras e montanhas. As casas de madeira, os celeiros, pastos e rebanhos nos remetem a um universo lúdico, repleto de sonhos. Uma dica excelente de passeio.
Em Treze Tílias, os off-roaders foram agraciados com um espetáculo de dança tirol, com direito a apresentação de harmônica – sanfona estilo européia – e sinos, tocados com maestria. Nas estradas, apesar da beleza indescritível, muita, mas muita poeira. À noite, a caravana chegou em Chapecó, SC, depois de enfrentar, com garra, o primeiro grande obstáculo da viagem: a obstrução da estrada, causada pela queda de uma ponte. Bem orientados, todos os jipes, com exceção das picapes maiores – que viajaram completamente carregadas com mantimentos, peças de reposição e material de acampamento –, cruzaram o rio com uso extensivo de guinchos. Fora-de-estrada noturno para ninguém botar defeito.
Um inimigo chamado pó
A poeira causada pela ausência de chuva entre as cidades de Chapecó e Francisco Beltrão, PR, se transformou no principal obstáculo da viagem. Verdade seja dita: pó origina estresse, e os integrantes sentiram esse impacto.
O roteiro passou pela cidade de Realeza, PR, onde o pessoal foi recebido pelo Jipe Clube da cidade. Nesse município, foi feita a primeira ação social da Agrale, com a distribuição de alimentos para uma escola de crianças carentes.
À noite, seguiram para Salto Caxias, PR, onde foi armado o primeiro acampamento, às margens de uma grande represa. O padrão das barracas, posicionadas à frente dos jipes, ficou muito bonito. Clima de aventura selvagem no ar.
A força das águas em
Foz do Iguaçu
Dia 8, quarta-feira
Salto Caxias, PR – Foz do Iguaçu, PR
Esse foi um trecho magnífico, em que o grupo teve a rara oportunidade de ladear o Parque do Foz de Iguaçu. Selva fechada com mata alta que cobria os jipes, alguns pequenos rios e poças de lama. A poeira continuava a atacar a trupe em doses cavalares. O uso do rádio foi otimizado e a caravana seguia cada vez mais afiada. Entrosamento é a palavra de ordem. Após alguns dias de cansaço, muita sujeira e algumas dificuldades, nada melhor que uma noite de sono num hotel luxuoso de Foz.
Dia 9, quinta-feira
Foz do Iguaçu, PR – Cascavel, PR
Outra vivência única que os participantes guardarão nas memórias, foi conhecer de perto a Usina Hidrelétrica de Itaipu. O comboio adentrou as instalações da represa e passou por cima da barragem, um lugar que proporcionou visão e sensação indescritíveis.
Conheceram a gigantesca represa, e o assessor de imprensa da usina promoveu uma aula sobre o funcionamento de Itaipu – local complexo e difícil de explicar com palavras. De lá, a caravana seguiu até as Cataratas do Iguaçu, onde a diretoria da expedição fez a segunda ação social: doação de um grupo gerador diesel para o Ibama da região.
Nesse dia, os tripulantes foram brindados com a primeira chuva da viagem. Com a temperatura mais que agradável e sem pó, a planilha ficou uma delícia e a estrada lisa, fofa e escorregadia. Novamente as paisagens de cinema coloriram o dia. Trilhas em cumes de montanhas, serras virgens e muito verde encheram os olhos e corações de todos. À noite, quando chegaram em Cascavel, os expedicionários rumaram para as instalações da concessionária Agrale local, onde fez o segundo acampamento.
Uma gincana diferente
Dia 10, sexta-feira
Circuito Especial Concessionária Agrale Cascavel
Uma interessante atividade foi especialmente planejada para essa etapa: uma gincana que consistia em encontrar várias peças, retiradas dos jipes no dia anterior. Estepe traseiro, porcas, chave de rodas e macacos foram escondidos nas dependências da loja. A segunda missão era perceber a ausência de um parafuso de rosca da bateria – e descobrir o local de origem do mesmo. A terceira foi a famosa rampa, onde as duplas tiveram que equilibrar os jipes sobre tábuas fixadas em uma tora. Atividade difícil, que apenas alguns realizaram. À tarde, uma divertida disputa de futebol, um desafio descontraído entre a organização e os participantes.
Dia 11, sábado
Cascavel – Guaíra – Dourados, MS
E tome “estrada de chão” – expressão que muitas pessoas do interior do Brasil usam para definir estradas de terra batida. Esse foi um dos dias mais longos da viagem até o momento. O comboio rodou 530 quilômetros em meio a terra vermelha e areiões, que ilustram bem as diferenças de solo entre Paraná e Mato Grosso do Sul. O grupo almoçou sob uma árvore, dentro de uma reserva indígena, e fez contato com o cacique, que numa conversa franca e amistosa expôs a realidade e dificuldade dos índios. Na segunda etapa do dia, o roteiro seguiu para Dourados, MS, onde o Jeep Clube da cidade organizou uma calorosa recepção e todos se confraternizaram num animado churrasco.
Dia 12, domingo
Circuito Especial Dourados, MS
Um belo dia de sol e uma prova em meio à natureza marcaram o 2º circuito especial, realizado em Dourados, MS. Foi uma ótima idéia convidar o Jeep Clube Dourados para conduzir o comboio através de ribanceiras, grandes pedras e erosões nas proximidades de uma pedreira desativada pela infiltração de água. O lugar é um ponto de encontro para banhistas.
A primeira tarefa consistia em um circuito dentro de um tempo determinado. Na segunda, os organizadores avaliaram a técnica de volante off-road. À tarde, novamente o pó apareceu com tudo e atrapalhou a visão de quem seguia atrás do carro guia. E nessa fase, o clima entre os participantes ficou um pouco mais tenso, pois apesar dos organizadores defenderem que a expedição não era exatamente uma competição, as duplas começaram a disputar as pontuações.
Ao final do dia, o comboio chegou em Campo Grande, MS, onde aconteceu a primeira e única baixa de toda a expedição. O curitibano Andersen Christofoli teve que voltar para casa mais cedo, devido a uma inflamação no dedo do pé. Com muito pesar, Christofoli se despediu da viagem. Quem substituiu o companheiro de Clayton Rizzato Nunes foi a suplente Mônica Rossi, de Caxias do Sul.
Vida em profusão
Dia 13, segunda-feira
Campo Grande, MS – Transpantaneira – Rio Verde, MS
A poeira já havia aparecido em todas as configurações possíveis e não dava a menor pista de que iria dar folga. Secas, as estradas da região ficam muito empoeiradas e, mesmo assim, o comboio teve que andar junto. Ao entrar na Serra da Alegria, foi impossível não se impressionar com a beleza local. Apesar do cansaço, nítido no rosto de algumas pessoas, a entrada na Rodovia Transpantaneira valeu o dia.
Com pouco tempo para apreciar as belezas naturais, a reportagem registrou animais como jacaré, tuiuiú, cervo, tatu, aranha-caranguejeira, várias espécies de insetos, além de revoadas de papagaios e araras. O Pantanal é o coração verde do Brasil, não há dúvida.
Mais tarde, a caravana chegou a uma pousada no município de Rio Verde, MS, onde lavaram os corpos, roupas e até a alma numa cachoeira deliciosa.
Descanso?
Dia 14, terça-feira
Circuito Especial Rio Verde, MS
Esse pode ser considerado o dia mais “light” de toda a expedição. Os organizadores já haviam preparado a realização de uma prova de resistência física na água – Aquaraid, modalidade que consiste em descer as corredeiras de um rio utilizando um bote inflável e roupas especiais para evitar ferimentos.
Os participantes desceram dois quilômetros na água, e depois veio o mais difícil: levar o bote nas costas, até o ponto inicial, no menor tempo possível. Após a correria, todos descansaram o resto do dia. O gaúcho Jouber Cavali preparou o jantar para toda a turma, que terminou a noite com um show de pop-rock, que só não entrou madrugada adentro, pois no outro dia a batalha começaria bem cedo.
Dia 15, quarta-feira
Rio Verde, MS – Coxim, MS – Iporã, MS
O aviso dado pelo guia João Batista Lima foi claro. “Temos que tomar cuidado com as arraias de rio – peixe de corpo achatado que possui uma espécie de ferrão. São abundantes na região – e com a travessia de rios e alagados, pois estamos no Pantanal. É fácil se enganar e vou citar um ditado antigo: Deus perdoa, o ser humano, às vezes perdoa. A natureza jamais…” Mesmo consciente de que o Marruá é equipado com um excelente snorkel e o motor MWM 2.8 turbodiesel que oferece um sistema de acoplamento viscoso de hélice, que impossibilita a quebra no contato com água, prevenir é sempre um ato inteligente.
Além das dezenas de porteiras de fazendas, que eram abertas e fechadas, o que marcou esse dia foi a água, seja em estradas molhadas ou mesmo nos pântanos em que os terrenos se transformam. À medida que os jipes passavam ou paravam para puxar alguém que havia atolado, os peixes simplesmente pulavam nas laterais dos veículos. Vida em profusão!
Bem sujo, o grupo aproveitou a travessia de um rio ao lado de uma ponte, entre as várias caídas do Pantanal, para um delicioso banho natural.
Mas a chuva mandou o recado. Na parte da tarde, o roteiro foi cancelado, pois os caminhos estavam impraticáveis. O pernoite foi feito nas dependências de um posto de combustível, onde foi armado o acampamento com revezamento de vigias. Quem conseguiu dormir bem nas barracas – com o verdadeiro dilúvio que caiu à noite – descansou bem.
Dia 16, quinta-feira
Iporã, MT – Rondonópolis, MT
O Comboio Marruá fez o trajeto entre Iporã e Itiquira, em estrada de asfalto, para compensar o atraso que as chuvas causaram no dia anterior. Depois, seguiram até Rondonópolis, onde ganharam uma bela recepção na concessionária Agrale. Na seqüência a trupe rumou em sentido a Poxoréu, MT, mas o péssimo estado das estradas da região obrigou o grupo a fazer mais um acampamento, montado ao lado de uma igreja, localizada em um bairro afastado. O trecho que seria percorrido à tarde, novamente foi suspenso.
Todos acordaram às 4 horas da manhã para enfrentar o último percurso. O dia começou com chuva, e a estrada estava repleta de lama. Muitos levantaram os braços aos céus e agradeceram a “diversão”. A caravana ainda parou em Aparecida do Leste para realizar mais uma doação de alimentos, dessa vez para uma escola pública. Foi comovente a maneira como as crianças e os funcionários da escola ficaram surpresos com a chegada da trupe Marruá.
Dia 17, sexta-feira
Rondonópolis, MT – Chapada dos Guimarães, MT
Nesse dia, o grupo enfrentou dezenas de quilômetros de estradinhas secundárias, para chegar na paradisíaca Chapada dos Guimarães. Um dia cheio, repleto de retas intermináveis que alternavam entre lama, buracos e pedras. Ao final da tarde, todos seguiram para uma bela pousada, com impressionante visão panorâmica de toda a chapada. No jantar, o clima era de apreensão, pois a viagem chegava ao final e ainda não era possível prever qual dupla ganharia o troféu Agrale 40 anos.
Dia 18, sábado
Circuito especial Chapada dos Guimarães, MT
Chegou enfim o derradeiro dia da Expedição Agrale Marruá. Cerca de 3.800 quilômetros rodados, histórias, lembranças e vivências que ficarão para sempre nas mentes e corações dos participantes. Mas o melhor ficou reservado para o final: um circuito de 78,20 quilômetros levantado especialmente por Lima e Vacari. O mais pesado roteiro da viagem teve como destaque a travessia de um banhado com água na altura da cintura.
A prova era aparentemente simples: conduzir apenas um jipe a um certo ponto dentro do alagado e trazê-lo de volta. Foi necessário o uso de guinchos elétricos, patescas, pás e todas as ferramentas disponíveis. O trabalho levou praticamente toda a tarde e, apesar do cansaço extremo, a diversão e o espírito real do fora-de-estrada, contagiaram a turma.
A maneira que a diretoria da Agrale escolheu para envolver os participantes surtiu imenso resultado e, mesmo não se caracterizando como uma competição, a dupla campeã – os paulistas Ricardo Meneghini “Rico” e Jonathan Burt “Gringo” – levou para casa um cheque de R$ 10 mil. O segundo lugar ficou com a dupla José Dirceu Quoss “Amigão” – Realeza, PR, e Zenoir Schiochet – Caxias do Sul, RS, que receberam R$ 6 mil. Marcos Valbuena, DF, e Ralph Reis de Souza “Tapajós”, GO, ficaram com a terceira posição e R$ 4 mil. As outras duplas receberam cheques de R$ 1 mil.
No último dia, todos se reuniram em uma grande festa, e a alegria foi levemente ofuscada com a idéia do retorno, a hora de dizer adeus aos novos amigos feitos nessa grande aventura.
Adeus não, até a próxima!
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