Conheça esse Super Jeep CJ8 artesanal, construído em Roraima
Esse imenso Jeep com carroceria feita de aço antiderrapante é o cartão de visitas de uma oficina mecânica de Boa Vista, em Roraima. Paixão herdada de pai para filho, se tornou um dos destaques do off-road em seu estado
Por James Garcia Fotos JPavani
Em setembro de 2011, esse mesmo jornalista publicava, como destaque da seção Jipe do Leitor da Revista 4×4 &Cia, a história desse baita 4×4, que vem do extremo norte do Brasil, especificamente de Boa Vista, em Roraima, uma das principais capitais da região Amazônica.
O micro empresário Elmer Alves de Brito, 39 anos, natural da cidade e tem contato com automóveis desde sempre. “Meus pais, Pedro e Neide, sempre gostaram de viajar e tiveram motos estradeiras, utilitários Gurgel X10, Jeep CJ5, F75 e Toyota Bandeirante”, falou.
Assim como o pai, que possuia uma retífica, Elmer atua no ramo de reparação automotiva. “Desde criança eu gostava de ir para a oficina quando saía da escola e aprendi a dirigir em um Jeep, com nove anos, quando íamos para algum lugar seguro e sempre com 4×4 e reduzida acionados”, contou. Uma das maiores alegrias do menino era levar o CJ5 da garagem até o portão da oficina, ao final do expediente.
Quando completou 18 anos, Elmer ganhou um CJ5 com motor VW diesel da Kombi, o qual equipou com pneus militares 900×16”. “Quebrei alguns semi-eixos e o motor fundiu de vez. Depois fizemos uma reforma geral e instalamos a mecânica da Toyota 14B”, disse. Foi a primeira experiência com adaptações, sempre com a orientação do “Mestre Pedro” – como o pai é conhecido na cidade.
Mas a configuração de terreno de Roraima fez com que Elmer quisesse mudar de carro.
Suapí e Serra do Sol são algumas trilhas que fazem parte das atividades do Roraima 4×4 Jipe Clube, do qual Elmer é associado . Tais trilhas ficam em região montanhosa e de difícil acesso, onde os CJ5 e os Troller empinam com facilidade, então para transpor essas trilhas com mais segurança, ele optou por um 4×4 com uma distância entre-eixos maior. “Escolhi o CJ6 pelo maior tamanho (101 polegadas) e, conseqüente, espaço interno”, comentou. A ideia inicial era usar pneus de 38 polegadas e ter em um conjunto mais equilibrado para encarar montanhas, rochas e erosões.
Em 2005, o pai comprou um chassi de CJ6 por R$ 150,00 e o projeto começou.
A estrutura do “Bernardão” foi enviada para jateamento e recebeu reforços e suportes para novos feixes de mola do Toyota Bandeirante. “Eu não tinha carroceria e não queria de fibra. Meu pai sugeriu a construção de uma em chapa antiderrapante de 1.9 mm”, explicou Elmer.
Os desenhos das laterais, assoalho, parede de fogo, capô e para-lamas foram construídos na oficina. O design seria algo próximo do CJ6, mas com portas maiores. “Adquiri uma grade nova de CJ5 e um quadro de para brisa militar, já os para lamas e o capô foram concebidos no estilo do CJ3”, explicou.
Para formar o conjunto motriz, Elmer negociou um motor MWM Sprint de seis cilindros, diesel, com turbo e intercooler, retirado de uma Ford F250, veículo que cedeu também câmbio, caixa de transferência e outras peças. O chassi do CJ6 já estava pronto com a suspensão e diferenciais da Toyota Bandeirante, mas quando seu pai viu o propulsor, resolveu abandonar o chassi original e partiu para uma estrutura mais adequada ao tamanho do novo powertrain.
“Tinhamos um
chassi de caminhão VW 790 ¾, do qual aproveitamos as vigas e as travessas. Peguei
o croqui de um chassi do Jeep CJ8 e um designer
ajustou as medidas no computador, explicou. Para completar o conjunto
estrutural, foi feita uma gaiola com tubos de 2” e parede de 4,5 mm.
O intercooler da F250 foi conectado a um radiador feito sob medida à partir da
colméia do caminhão Mercedes-Benz MB 1113, trabalho que exigiu uma “cirurgia”
na parte interna dos pára-lamas. O radiador e o intercooler foram montados no
chassi através de duas torres verticais, calçadas com três coxins de 1”. O
sistema de direção hidráulica é da GM S10.
Os eixos diferenciais de Toyota instalados inicialmente deram lugar aos da picape F250, e isso acabou por atrasar o andamento do serviço.
Para adaptar o eixo traseiro foram removidos os suportes dos amortecedores, além da adição de uma cinta limitadora e uma barra de tração regulável. O eixo dianteiro deu mais trabalho, pois as F250 4×4 começaram a ser feitas em 2006, então era raro achar peças. “Encontrei um diferencial dianteiro completo de um modelo 2007 sinistrado”, contou.
Elmer fez uso do sistema high steer (peças acopladas aos munhões dianteiros e à barra de direção, que possibilitam que a última seja posicionada por cima do eixo, com peças(terminais de direção) do caminhão MB 1113. O câmbio e a caixa de transferência foram instalados e receberam acionamento através de alavanca.
O cardan traseiro é o da F250 encurtado e o dianteiro é do (caminhão) Ford F4000, pois com o motor seis cilindros a saída frontal da caixa de transferência ficou mais distante que na F250.
A chegar nessa configuração mecânica, Elmer quis usar pneus de 42” com rodas de 17×9”.
Outro detalhe importante foi “casar” as relações de coroa e pinhão, pois o diferencial dianteiro tem relação de 3,54:1 e o traseiro tem 4,10:1. Assim, para movimentar os pneus sem forçar a transmissão optou-se pela relação 5,13:1. “Comprei um bloqueio a arpara o diferencial traseiro, compressor e kit pra inflar pneus e contei com a ajuda de um amigo que morava nos EUA”, comentou.
Enquanto o Jeep tomava forma, a parte elétrica era projetada, com a posição dos instrumentos sendo feita com auxílio do computador. O painel é de chapa de alumínio equipado com indicadores digitais de pressão de óleo, temperatura, nível de combustível, voltímetro, velocímetro e relógio. Os medidores de pressão de turbo e conta-giros são analógicos. O Jeep recebeu chave geral e a ignição é através de um botão de start, ambos localizados no meio do painel. Ainda na parte interna, há radio PY, coluna de direção regulável, volante e pedais esportivos, extintor de 2 quilos, uma caixa de munição militar que virou um console entre os bancos concha, cinto de quatro pontos para o motorista e de três pontos retrátil para o passageiro. A capota do Bernardão foi ajustada para se adequar à carroceria maior.
No lado de fora, completam o visual retrovisores do CJ7, piscas e lanternas do Wrangler em led e faróis auxiliares. Os para-choques artesanais também são em chapa anti derrapante com ¼” de espessura e a frente recebeu pontos de ancoragem militar. Atrás há um gancho G-Bola Ensimec. “Com o Jeep ainda sem pintura rodei 2 mil quilômetros. Ele superou as expectativas, mas em abril desse ano resolvi desmontar tudo pra dar o acabamento final com a cor prata”, explicou.
Elmer frisou que sempre teve o apoio do pai e, mais recentemente, do filho (Danillo de 16 anos) que, assim como ele, está crescendo dentro da oficina.
Os interessados em saber mais detalhes desse gigante do off-road podem enviar mensagem para Elmer no e-mail: elmer_jeep@4x4brasil.com.br ou no Facebook: facebook.com/Elmer.Jeep
Se você quiser acompanhar, passo a passo, toda a construção desse Jeep, Elmer registrou tudo no Forum 4×4 Brasil, confira aqui: https://www.4x4brasil.com.br/forum/showthread.php?t=19849&page=149#post1539778
Preencher a ficha técnica – Jeep CJ8 1990 artesanal
Carroceria: chapa de aço anti derrapante de 1.9mm
Chassi: Vigas de aço do caminhão VW790 ¼” de espessura
Motor: MWM Sprint 6.07 TCA (turbo + intercooler), 4.2 litros, seis cilindros em linha (original)
Combustível: diesel
Potência: 180cv@3400rpm
Torque: 51kgmf@1600rpm
Transmissão: câmbio manual de cinco marchas ZF S5 420 (Original F250 4×4)
Tração: Caixa de transferência New Process NP273 (Original F250 4×4), convertida para acionamento mecânico.
Diferencial dianteiro: Dana 60R (F250 4×4)
Diferencial Traseiro: Dana 70U (F250 XLT) com bloqueio a ar
Relação Diferencial: 5,13:1
Suspensão
Dianteira e traseira: Eixos rígidos, feixes de mola Toyota, buchas de PU e amortecedores com regulagem de pressão e 12 polegadas de curso.
Direção: hidráulica, setor original da GM S10, coluna regulável do GM Opala, barras e terminais de direção do MB 1113, High Steer customizado e amortecedor de direção
Freios
Dianteiro e traseiro: disco nas 4 rodas com cilindro mestre e hidrobooster originais
da F250.
Rodas: 17×9” off-set de 25
Pneus: 40” x 14,5” R17
Dimensões (mm)
Comprimento: 4.200
Largura carroceria: 1.500
Largura total com retrovisores e estribo: 2.000
Altura total: 2.350
Altura com para-brisa rebatido: 1.680
Vão-livre: 500
Passagem em água: 1.500
Bitola:2200
Entre-eixos: 2.640 (104”)
Peso: 2.500 quilos
Capacidade de carga: 800 quilos
Velocidade máxima: 120 km/h
Tanque de combustível: em aço inox, 128 litros
Consumo
Cidade: 9 km/l
Estrada: 9 km/l
Serviço: Retífica Central Rua Presidente Costa e Silva, 592 Bairro: São Pedro, Fone: (95)3224-3470 fax: 95)3624-3829 Boa Vista/Roraima-RR.