Expedição Dakar Overland – Aventura entre amigos

Expedição Dakar Overland – Aventura entre amigos
Influenciados pelas imagens do Rally Dakar, off-roaders paulistanos realizam expedição pelo norte argentino, o deserto do Atacama e o sul da Bolívia. Vamos saber como foi essa bela trip, no relato de seu organizador, Márcio Hayashi, empresário e médico cirurgião de São Paulo

Visita ao Cemitério de Trens, na cidade boliviana de Uyuni

O sonho de conhecer o norte argentino, o Atacama e a Bolívia nasceu em 2009, quando o Rally Dakar (antes conhecido como Rally Paris-Dakar), passou a ser realizado na América do Sul.
Comboio enfrentando a duríssima passagem pelo maior lado de sal do mundo: Salar de Uyuni

 
Acompanhando as incríveis imagens que o canal SporTV mostrava do rally, eu ficava sem palavras com as paisagens impressionantes daquela região. Fiquei com a ideia fixa de que um dia iria lá dirigindo o meu próprio carro.

Finalmente, no final de 2015, decidimos realizar este sonho. Reunimos um grupo de 23 amigos, incluindo 6 crianças, para uma expedição pelo norte argentino, o deserto do Atacama e o sul da Bolívia, com o objetivo de encontrar o Rally Dakar no caminho.
Jantando e relembrando as aventuras do dia, na cidade argentina de Corrientes

Uma viagem tão longa como essa, com um grupo tão grande e heterogêneo como este, só deu certo pois temos uma grande paixão em comum: o mundo 4×4.
Por diversas vezes, o comboio parou para apreciar o belo por do sol. Na foto, Santiago del Estero

Foi um ano de planejamento, com o objetivo de mapear o melhor percurso, as melhores cidades, os caminhos mais bonitos, atrações de interesse, e tentar cruzar o caminho que o Rally Dakar iria percorrer para assistir a caravana do rally passar.
Um dos muitos espetaculares momentos da viagem: por do sol no norte da Argentina

 
Neste período, preparamos nossos 4×4 para aguentar grandes adversidades, incluindo longos deslocamentos em terrenos muito hostis aos veículos, com temperaturas congelantes até desertos de 50 graus, altitudes que iriam até 5 mil metros, em pisos de asfalto, terra, neve, areia, dunas, pedras, travessias de rios. Além disso, precisávamos nos preparar para rodar até 800 km de trecho off road sem postos de abastecimento.
 
A mais de 2.000 metros de altitude, contornando as montanhas de Tucuman

 
O comboio foi formado por 3 Jeep Wrangler, 2 Pajero TR4, 1 Defender, 1 Amarok e 1 L200 Triton.
Mas por mais que tenhamos planejado, muitas coisas não saíram como o esperado. E isso fez com que essa viagem se transformasse em uma verdadeira aventura! Algumas das adversidades que encontramos foram bloqueios de estrada, “fuga” da polícia, tempestades, alagamentos, deslizamento de pedras, avalanche, carros do Rally Dakar pelo caminho, desertos escaldantes sem estradas mapeadas, montanhas com neve… além dos inevitáveis contratempos por problemas nos carros.
 
Deixando Tafi del Valle, os primeiros cactos foram avistados. Estava começando a paisagem desértica

 
Um diário de bordo completo será publicado em formato de vídeo em breve. Nossa expedição começou em Foz do Iguaçu, onde 2 carros e seus ocupantes já nos esperavam. No dia 27 de janeiro atravessamos a fronteira e avançamos pela região do Chaco, até Corrientes, onde passamos a primeira noite na Argentina. Em vez de seguir direto até Salta, fizemos um desvio pelo sul, por Santiago del Estero, Termas de Rio Hondo, Tafi del Valle e Cafayate.
 
No deserto em Cachi, foi encontrado um oásis para almoçar

 
De Cafayate até Salta, desviamos do caminho asfaltado por uma estrada alternativa passando pela inacreditável Quebrada de las Flechas, Cachi e o Parque Nacional Los Cardones. Em Salta, passamos nosso Reveillon em grande estilo, com show de talentos locais.
 
Uma das mais belas travessias da cordilheira: Cuesta del Obispo

 
De Salta, entramos no Chile pelo menos conhecido Paso Sico, um caminho alternativo ao tradicional Paso Jama. Esse caminho é famoso por ser mais desafiador pois se trata de um caminho não asfaltado, indicado apenas para carros 4×4. No Paso Sico, encontramos uma Toyota Hilux com um grupo de argentinos que estavam a horas atolados no salar, próximo ao Piedras Rojas.
 
Chilenos em apuros no Deserto do Atacama e o resgate, feito por nós, concluído um pouco antes de escurecer

 
Vários carros tentaram tirá-los de lá, mas não tiveram sucesso. Já sem esperanças e com o dia prestes a escurecer, nosso comboio chegou para resgata-los. Foram necessários 2 guinchos de 12 mil libras para puxarmos a Hilux completamente atolada o salar. Missão de resgate cumprida, ainda faltava mais de 3 horas de viagem até o Atacama. Chegamos a San Pedro de Atacama, onde ficamos 3 noites, conhecendo as principais atrações locais.
 
Uma lição aprendida pelos chilenos: não se arrisque sozinho, com um carro sem equipamentos

 
Do Chile, fomos para a Bolívia através da Reserva Eduardo Avaroa, onde não haviam estradas e seguimos caminho através de coordenadas GPS. Foi o dia mais tenso, mas o dia mais incrível da viagem. Enfrentamos sol, chuva, neve e caminhos inacreditavelmente desafiadores para nossos carros, mesmo preparados.
 
Paisagens estonteantes do Deserto Chileno

 
Já estava escuro, no meio da escuridão do deserto, quando a Defender, devido a forte trepidação enfrentada no dia, acabou ficando sem freio. Uma das Pajero TR4 também teve uma grave avaria no bagageiro de teto, que necessitou de um reparo de emergência para continuarmos viagem. Chegamos ao hotel tarde da noite. Era um hotel de luxo no meio do deserto, chamado Los Flamencos Eco Hotel, junto à Laguna Hedionda. A amável equipe do hotel nos esperou até tarde, nos servindo um jantar magnífico a luz de velas.
 
Gêiseres del Tatio: o terceiro maior parque geotérmico do mundo, a 4.200 metros de altitude

 
No dia seguinte, todos acordaram mal devido à altitude de quase 5 mil metros. Foi no caminho para Uyuni que tivemos o primeiro contato com o Rally Dakar. Nossa estrada estava bloqueada pelo exército boliviano pois coincidia com o trecho cronometrado da quinta etapa do Rally Dakar. Foi emocionante.
 
Por do sol no Valle de la Luna, no Atacama

 
Vimos vários competidores passando a poucos metros de nós! Após liberação da estrada, vivenciamos um dos momentos mais emocionantes da viagem:  fomos ultrapassados por 2 competidores do rally atrasados e apressados.
 
Reserva Eduardo Avaroa, na Bolívia

 
No dia seguinte, conhecemos o Salar de Uyuni. Tivemos muita sorte, pois havia chovido no dia anterior e o efeito espelho estava perfeito! Fizemos um almoço no Salar, conhecemos o monumento do Dakar e o famoso hotel feito de sal.
 
Desafio no deserto boliviano: não existiam estradas. Seguem-se as coordenadas do GPS

Já no caminho de volta para a Argentina, entre Tupiza e La Quiaca, mais uma surpresa: nossa estrada estava bloqueada novamente pelo exército boliviano devido ao Rally Dakar. E esse era o único caminho para a fronteira.
 
Areia, pedras, neve água e sal: assim é o hostil e magnífico deserto boliviano

 
Por sorte, conseguimos um simpático guia local que nos levou por um desvio pelo meio do deserto até a fronteira com a Argentina, somente para veículos 4×4. Já de volta à Argentina, conhecemos a belíssima Purmamarca, onde passamos a noite. No caminho de Purmamarca para Salta, mais uma surpresa: um gigantesco deslizamento de terra causado por uma tempestade isolou a cidade, inclusive causando mortes e deixando milhares de desabrigados. Lá, tivemos nosso segundo encontro com a caravana do Rally Dakar, assim como nós, presos em Tilcara devido à tempestade. Foi fantástico ver todos os veículos de apoio do Rally agrupados na estrada.
 
Comboio seguindo pelo Salar de Uyuni

 
Encontramos um caminho alternativo para Salta, passando pela belíssima Cuesta de Lipán e por San Antonio de Los Cobres, onde fomos recebidos como heróis, com aplausos, gritos e fotos pelos moradores locais… eles achavam que a gente realmente fazia parte do Rally Dakar. Foram momentos de fama.
 
Em busca do “efeito espelho”, no Salar de Uyuni

 
Em Salta, dedicamos um dia para o Rally Dakar. Achamos um bom ponto para fazermos um belo churrasco para vermos os competidores do Rally passarem por nós.
 
Caminhão do Rally Dakar, passando por Salta

 
 
 
Salar de Uyuni, nosso ponto mais distante da viagem, a mais de 4.000 km de casa

 
Na volta da expedição, ainda ficamos hospedados em um Casino-Hotel fantástico em Resistência, onde nos despedidos da Argentina. Acho que o ponto alto da expedição foi o fantástico entrosamento entre todos do grupo.
 
Para que o “efeito espelho” seja possível, a profundidade da lâmina de água deve ser exata

 
De 4 a 73 anos, todos estávamos juntos na aventura, tanto nas dificuldades como nas comemorações. A união fez toda a diferença para o nosso sucesso.
 
Como o sal do Uyuni nos carros, o grupo podia iniciar a volta para casa

A viagem foi inesquecível. Agora vamos esperar a próxima!

15 comentários em “Expedição Dakar Overland – Aventura entre amigos

  1. Obrigado 4×4 Digital pela oportunidade de compartilhar a nossa aventura.
    Para quem for fazer uma expedição semelhante, lembre-se que a preparação dos carros é fundamental. O carro dar problema no meio do deserto, a 300 km da cidade mais próxima, não é uma opção.
    Gostaria de aproveitar e agradecer um grupo de pessoas que tiveram fundamental importância no sucesso da viagem:
    Roger Konno, da 4×4 Evolution CWB, que projetou e fabricou peças incríveis para as viaturas.
    Elthon Akinaga, da ATS Pneus, que fez um trabalho de primeira revisando minuciosamente o meu Jeep Wrangler para a expedição.
    Leandro Piva e Luis Gonçalves, da Audio System, por terem feito de forma primorosa a parte de iluminação, som e elétrica do Jeep.
    Pedro Crescenti Gonzalez, da página JK Brasil por ter ajudado na divulgação da expedição.
    E James Garcia, por ter dedicado o espaço na Revista 4×4 Digital para a nossa grande aventura.

    1. Celso Bruno, desculpe por demorar a responder. Não tivemos nenhuma quebra significativa. Os carros estavam muito bem revisados e preparados. O maior problema foi com a Defender que teve problema no freio, mas que foi resolvido pela própria equipe.

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